quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Judas

JUDAS

Judas o irmão de Tiago, primos de Jesus; segundo a tradição escrita por Egezipo, escritor judeu do século II, ambos eram filhos de Cléofas, discípulo de Emaús (Lc 24). Judas escreve para cristãos oriundos do paganismo ameaçados por falsas doutrinas, o que era comum em toda a Ásia Menor, onde se negava a divindade de Jesus, insultavam os anjos, zombavam das verdades pregadas pelos apóstolos e causavam divisões na comunidade. Era a pré-gnosticismo presente na Igreja.

A carta de Judas tem um inicio convencional no judaísmo, ou seja, ela tem a identificação de quem está enviando a carta, e quem vai receber a carta. Ela também é acompanhada de uma saudação aos recipientes. Isso é semelhante a 2Pedro, onde também as Igrejas destinatárias não estão nomeadas. Por este fato, esta carta é considerada como católica. Portanto, o conteúdo desta carta deixa claro que foi escrita para Igrejas especificadas que estavam enfrentando o problema do antinomianismo.

Olhando no versículo 1, podemos perceber que Judas não se arroga no direito de ser tido por apóstolo de Cristo (v.17), porém demonstra que submeteu-se ao senhorio de Cristo, como todos os outros cristãos "Judas, servo de Jesus Cristo..." (v. 1). No vv. 9 e 10 temos uma irônica arrogância dos adversários em contraste com a modéstia do supremo arcanjo Miguel, que em vez de blasfemar quando o demônio tentou reivindicar o corpo defunto de Moises, ele apenas o repreendeu. Ao lutar para combater os falsos mestres, o autor está afirmando que o evangelho anunciado pelos apóstolos é completo e não admitir qualquer tipo de complemento, muito menos à adição de elementos contraditórios aos padrões morais do judaísmo.

Judas na sua carta usa alguns elementos apocalípticos que nos leva a profecia apostólica para explicar o surgimento desses falsos mestres nos últimos tempos e, além disso, anuncia o juízo escatológico sobre eles. Falando da escatologia, vemos também Judas utilizando este termo no v.1 (... aos que foram chamados amados por Deus Pai e guardados por Jesus Cristo). Desta maneira, Judas está percebendo os cristãos como o escatológico de Deus. Este povo escatológico é objeto de amor de Deus. Outro caso curioso é a epístola de Judas está ligada, ao que tudo indica, ao grupo judaico mais radical. É um pequeno sermão de caráter exortativo. Redigida com um estilo bastante contundente, estabelece nítido maniqueísmo entre seu grupo e outros indivíduos que ele chama de homens ímpios, que transforma em libertinagem a graça de nosso Deus (Jd 4). Para o autor, estes se introduzem no meio da comunidade cristã apregoando a degradação de certos valores. O autor anuncia-lhes severa punição, servindo-se de exemplos da tradição judaica, tais como a condenação de Sodoma e Gomorra, de Caim, Balaão e de anjos que não guardaram seu estado original. Finaliza acusando-os de serem; murmuradores, arrogantes (v.16), escarnecedores que promovem divisões; (v.18-19) e recomendando aos leitores que detestem até mesmo a roupa que usam (v.23). É uma epístola bastante irada e com linguagem pouco aberta a compreender a complexidade da diferença.

Atualmente, os teólogos contemporâneos que quiserem acusar a pós-modernidade ou os desenvolvimentos da cultura e defender um cristianismo fechado, encontrarão muitos subsídios nos versículos de Judas. A questão, porém, é que, a compreensão da realidade não se dá de modo tão nítido como parece querer o autor de Judas. Jorge Aquino, servindo-se da Teoria da Complexidade de Edgar Morin, fala que o mundo é complexo e exige um sistema aberto; e, conseqüentemente, para nós, cristãos, uma igreja aberta à complexidade;: a complexidade da vida nos faz entender que a mesma pessoa é capaz de, em um momento, agir com amora, carinho, afeto, etc. e que, no instante seguinte, ela pode agir com violência e motivada pelo ódio e pela vingança. Não estamos diante de duas pessoas, mas de uma pessoa complexa. O autor de Judas não compreende a realidade de forma complexa. Ao contrário, para ele, o mundo está definido nitidamente entre salvos e perdidos, puros e impuros, fiéis e ímpios. Judas vive num sistema fechado que não admite desequilíbrio e instabilidade. Nesse ponto, é uma epístola muito propensa ao fundamentalismo.

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