Entrevistado.
Adriano Souza, aluno da escola bíblica dominical da segunda Igreja Batista de Feira de Santana.
Judas o irmão de Tiago, primos de Jesus; segundo a tradição escrita por Egezipo, escritor judeu do século II, ambos eram filhos de Cléofas, discípulo de Emaús (Lc 24). Judas escreve para cristãos oriundos do paganismo ameaçados por falsas doutrinas, o que era comum em toda a Ásia Menor, onde se negava a divindade de Jesus, insultavam os anjos, zombavam das verdades pregadas pelos apóstolos e causavam divisões na comunidade. Era a pré-gnosticismo presente na Igreja.
A carta de Judas tem um inicio convencional no judaísmo, ou seja, ela tem a identificação de quem está enviando a carta, e quem vai receber a carta. Ela também é acompanhada de uma saudação aos recipientes. Isso é semelhante a 2Pedro, onde também as Igrejas destinatárias não estão nomeadas. Por este fato, esta carta é considerada como católica. Portanto, o conteúdo desta carta deixa claro que foi escrita para Igrejas especificadas que estavam enfrentando o problema do antinomianismo.
Olhando no versículo 1, podemos perceber que Judas não se arroga no direito de ser tido por apóstolo de Cristo (v.17), porém demonstra que submeteu-se ao senhorio de Cristo, como todos os outros cristãos "Judas, servo de Jesus Cristo..." (v. 1). No vv. 9 e 10 temos uma irônica arrogância dos adversários em contraste com a modéstia do supremo arcanjo Miguel, que em vez de blasfemar quando o demônio tentou reivindicar o corpo defunto de Moises, ele apenas o repreendeu. Ao lutar para combater os falsos mestres, o autor está afirmando que o evangelho anunciado pelos apóstolos é completo e não admitir qualquer tipo de complemento, muito menos à adição de elementos contraditórios aos padrões morais do judaísmo.
Judas na sua carta usa alguns elementos apocalípticos que nos leva a profecia apostólica para explicar o surgimento desses falsos mestres nos últimos tempos e, além disso, anuncia o juízo escatológico sobre eles. Falando da escatologia, vemos também Judas utilizando este termo no v.1 (... aos que foram chamados amados por Deus Pai e guardados por Jesus Cristo). Desta maneira, Judas está percebendo os cristãos como o escatológico de Deus. Este povo escatológico é objeto de amor de Deus. Outro caso curioso é a epístola de Judas está ligada, ao que tudo indica, ao grupo judaico mais radical. É um pequeno sermão de caráter exortativo. Redigida com um estilo bastante contundente, estabelece nítido maniqueísmo entre seu grupo e outros indivíduos que ele chama de homens ímpios, que transforma em libertinagem a graça de nosso Deus (Jd 4). Para o autor, estes se introduzem no meio da comunidade cristã apregoando a degradação de certos valores. O autor anuncia-lhes severa punição, servindo-se de exemplos da tradição judaica, tais como a condenação de Sodoma e Gomorra, de Caim, Balaão e de anjos que não guardaram seu estado original. Finaliza acusando-os de serem; murmuradores, arrogantes (v.16), escarnecedores que promovem divisões; (v.18-19) e recomendando aos leitores que detestem até mesmo a roupa que usam (v.23). É uma epístola bastante irada e com linguagem pouco aberta a compreender a complexidade da diferença.
Atualmente, os teólogos contemporâneos que quiserem acusar a pós-modernidade ou os desenvolvimentos da cultura e defender um cristianismo fechado, encontrarão muitos subsídios nos versículos de Judas. A questão, porém, é que, a compreensão da realidade não se dá de modo tão nítido como parece querer o autor de Judas. Jorge Aquino, servindo-se da Teoria da Complexidade de Edgar Morin, fala que o mundo é complexo e exige um sistema aberto; e, conseqüentemente, para nós, cristãos, uma igreja aberta à complexidade;: a complexidade da vida nos faz entender que a mesma pessoa é capaz de, em um momento, agir com amora, carinho, afeto, etc. e que, no instante seguinte, ela pode agir com violência e motivada pelo ódio e pela vingança. Não estamos diante de duas pessoas, mas de uma pessoa complexa. O autor de Judas não compreende a realidade de forma complexa. Ao contrário, para ele, o mundo está definido nitidamente entre salvos e perdidos, puros e impuros, fiéis e ímpios. Judas vive num sistema fechado que não admite desequilíbrio e instabilidade. Nesse ponto, é uma epístola muito propensa ao fundamentalismo.
É a mais breve carta da coletânea paulina consistindo de 335 palavras no grego original e único exemplar existente de correspondência que pode ser chamada de bilhete. Théo Preiss (Londres, 1954, p. 33-34) chama a atenção à maneira que a carta começa associando a Timóteo com Paulo e associando com Filemom à totalidade da igreja que se reúne em sua casa. Segundo ele esses pormenores significam que o documento é uma epístola. Embora de caráter particular, esta epístola deve ser vista não tanto como uma carta particular de Paulo como indivíduo, mas como uma carta apostólica acerca de uma questão pessoal. Callahan (Estudos teológicos nº1, p.107-108) aponta que o apóstolo não é, falando formalmente, um apóstolo, pois não se refere a si mesmo como apóstolo em parte alguma da carta como faz nas suas correspondências, nem se atribui quaisquer prerrogativas apostólicas. Ele se apresenta e apresenta os outros constituintes da carta como colegas trabalhando juntos no projeto comum do evangelho.
A data mais provável desta carta seja entre 59 e 61 d.c, fazendo parte das correspondências de Paulo na prisão em Roma. Endereçada a Filemom (um homem rico da cidade de Colossos), Áfia (sua esposa, segundo alguns comentaristas) e Arquipo (seu filho, segundo alguns comentaristas), tratando do retorno do escravo Onésimo.
A carta enfatiza a transformação de uma vida. O convertido precisa reparar o erro cometido, se isso for possível. Para Onésimo era possível voltar à casa do seu senhor, portanto devia fazê-lo. Chama-nos a atenção a questão da escravidão. Ao que parece Paulo não condenou tal prática, afinal estava mandando o escravo de volta ao seu dono. Porém Paulo aconselha Filemom a tratar o escravo como um irmão amado, contudo a questão parece não estar resolvida ainda. Ele não usa da autoridade apostólica, ele apela à consciência de Filemom para que o perdoe, ainda que o mantivesse como seu servo. O fato é que o evangelho não é uma metodologia de revolução social, mas de revolução pessoal. A expressão da espiritualidade cristã precisava ser traduzida no perdão: esta é a essência do apelo de Paulo a Filemon. “ele (Onésimo), antes, te foi inútil; atualmente, porém é útil, a ti e a mim” (v.11). As relações mudaram: a utilidade de Onésimo para a igreja era agora maior que para o próprio Filemom. Uma mudança interior de atitude era o que se requeria. Esta mudança interior em Filemom seria mais importante do que qualquer mudança na própria instituição da escravidão.
A petição de Paulo era um pensamento revolucionário em contraste com o tratamento contemporâneo de escravos fugitivos. O pedido ousado que Paulo fez em prol de Onésimo, portanto tem seu caminho cuidadosamente preparado pela sua abordagem de linguagem suave com seus tons de petição, e leva a um apelo à cooperação e consentimento voluntários de Filemom e a promessa de fazer restituição pela dívida que Onésimo tinha incorrido. Para J. Knox (Filemom e a autenticidade de Colossenses, p. 154) Paulo nada diz acerca dos “direitos” de Filemom, no sentido de tirar vingança, nem sequer contempla que Onésimo será castigado. Esta omissão milita contra o conceito que vê uma alusão encoberta a Onésimo em Colossenses 3:25: “pois aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita”, como se esta seção tivesse em mente o caso de Onésimo e Filemom.
Como documento histórico, a carta lança luz incomum sobre a consciência cristã a respeito da instituição escravidão e Callahan nos mostra que a interpretação da carta a Filemon, como sendo a história dos seus efeitos colonialistas começando com a interpretação imperialista do pregador João Crisóstomo no século IV, como autor que trata Onésimo como um escravo fugitivo, lendo o texto como uma autorização para a escravidão. De acordo com sua exegese, Crisóstomo ilustra que “nós não devemos abandonar ou excluir a raça de escravos” e “que não devemos retirar escravos do serviço de seus senhores”. Nos seus sermões a carta torna-se uma evidência da apologia bíblica da escravidão, interpretação esta que foi amplamente disseminada. O puritano Cotton Mather utilizou-se da leitura pró-escravidão de Crisóstomo aceitando a infelicidade da vida dos escravos e insistindo que esforços deveriam ser feitos para assegurar aos escravos uma vida compensatória de bem-aventuranças no futuro, preparou para eles um catecismo, favoreceu o ensino da leitura da Bíblia sugerindo que eles “decorassem certos versículos particulares das Escrituras onde estavam as várias ordens de Paulo para que os escravos obedecessem a seus senhores. De acordo com Mather, Paulo teria feito de Onésimo um escravo “útil”.
Callahan, como uma alternativa anticolonial, apresenta um relato diferente, é o relato de Paulo, organizador de comunidades de Jesus que faz um apelo à solidariedade em vez de uma afirmação da diferença fundamental entra as pessoas, procurando afirmar, conservar e proteger essa solidariedade que numa palavra é o amor, o tema que unifica a carta. Paulo baseia seus apelos na dívida e não no direito e porque seu relacionamento é de solidariedade e não de reivindicações de direitos, não há momento nenhum de coação. Paulo procura remendar a rede desfiada de solidariedade que une as várias pessoas mencionadas na carta, ele fala dessa solidariedade com a linguagem do amor, fala a linguagem do trabalhador companheiro (sunergos, v, 1, 23), do soldado companheiro (systratiotes, v. 2), do prisioneiro companheiro (synaichmalotos, v.23), a linguagem de colegas e camaradas, a linguagem de ‘irmão amado”.
Bibliografia:
CALLAHAN, Allen Dwight, Estudos Teológicos, ano 48, nº 1, p. 101-110, 2008.
CULLMANN, Oscar, A Formação do Novo Testamento - Ed. Sinodal. GONZÁLEZ, Justo L., Uma História Ilustrada do Cristianismo - Volume 1 - Ed. Vida Nova.
GIBERT, Pierre, Como a Bíblia Foi Escrita - Ed. Paulinas.
- HOUSE, H. Wayne, O Novo Testamento em Quadros - Ed. Vida
JOSEFO, Flávio, A História dos Judeus - CPAD
KÜMMEL, Werner G. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 1982. pp. 455-458. Por padre José Bortolini, sacerdote Paulino
MARTIN, Ralph P., Colossenses e Filemon, Introdução e comentário, Série Cultura bíblica. Mundo cristão.
PACKER, J.I., TENNEY, Merril C., WHITE JR., William, O Mundo do Novo Testamento - Ed. Vida.
TURNER, Donald D., Introdução do Novo Testamento - Imprensa Batista Regular.